quarta-feira, 16 de março de 2011

Crônicas noturnas de uma cidade futura

Crônicas noturnas de uma cidade futura

Episódio 1 - Drama Familiar Parte 1

     O mundo visto com os olhos dos outros, é assim que um vampiro enxerga a vida humana , é assim que um vampiro vê sua família, amigos e amores, envelhecendo e partindo.
      Bruno Merichelle era vampiro há pouco mais de cinqüenta anos e ainda não se acostumara com a ideia, ainda era humano demais.

***

            Ele já estivera naquele bar inúmeras vezes. Marcos gostava do lugar, cheirava a frangotes prontos para uma boa briga. Jovens inconseqüentes, delinqüentes que poderiam sumir sem que ninguém desse falta deles. Claro que para ele todas as brigas eram fáceis. Era assim que ele escolhia suas vitimas: fazia com que ficassem com raia, gostava de ver o ódio em seus rostos, e por fim se alimentava, os consumia e se tornava imortal, por mais algumas noites.

***
     
      O pai desaparecera há alguns anos, assim como seu avô. Este Merichelle estava abandonado à própria sorte, sua mãe, o vendera a um traficante de drogas há alguns anos atrás para pagar uma dívida. Agora o menino Merichelle era como um cão de briga, guarda costas e capanga de Enrico.
            Até que o menino se saía bem, em alguns meses já tomava conta do bar como ninguém, fez do lugar sua morada.

***

            Marcos gostava especialmente do garoto que parecia tomar conta do bar, se pegava olhando para ele, entre um gole e outro de conhaque, seus cabelos negros e longos, jogados por sobre os ombros, geralmente usando uma camisa branca de gola aberta e manga virada na altura do cotovelo, calça social risca de giz e sapatos muito bem polidos. O menino Merichelle, Marcos já ouvira este nome nos dois mundos que freqüentava. Alguns anos antes fora incumbido de matar um Merichelle.  Para Marcos, este seria o jantar perfeito, como comer caviar, seria o manjar dos Deuses. Desta vez teria que tomar mais cuidado, o traficante e cafetão da área o tinha como protegido.

***
      Uma inquietação na alma: era o que ele sentia, destas que a gente sente quando é hora de tomar uma decisão muito importante. Ao sorver um gole de vinho, Bruno pensava em acabar com sua passividade, era hora de agir, não iria perder mais uma pessoa a quem amava, não iria perder seu neto, não queria vê-lo morto como seu filho, nem definhando, envelhecendo e morrendo. Mesmo sem a aprovação dos outros, mesmo que fosse uma criança da noite, um jovem vampiro, iria tomar uma atitude, podia ser jovem como criatura da noite, mas havia sido um chefe de família e já não era novo quando foi arrebanhado.
      Acabando de sorver o ultimo gole do vinho, Bruno Merichelle se levanta de sua poltrona, pega o paletó risca de giz que completa seu traje, um lindo terno de corte italiano, e sai para resolver de vez suas angústias.

***

      Hoje a noite estava calma, o bar estava estranhamente vazio, o mesmo vazio que tomara conta do menino Merichelle. Para passar o tempo e aliviar a solidão, era melhor arrumar uma boa briga. Poucas pessoas ocupavam algumas mesas, alguns jovens bêbados, um casal de namorados  e um rapaz que vinha sempre ao bar, cabelo aloirado, curto, estilo militar, calça e botina do exército, um sobretudo preto e uma cara muito estranha, como uma máscara pálida e sem emoção, estava sempre sozinho em um canto, já o tinha visto brigar e sabia que era muito bom, mas tanto faz, o menino não queria ganhar e sim brigar, aliviar o mal estar, dando ou tomando uma boa sova.

***

      Algum tempo depois Bruno Merichelle estava de pé em frente a um velho bar de subúrbio, freqüentado apenas por delinqüentes e viciados, aquele lugar, definitivamente, não combinava com ele, não combinava com seu terno alinhado, nem com os cabelos negros impecavelmente penteado para traz. Abriu a porta da frente usando um lenço e adentrou.
            Um grupo de rapazes corria para a porta dos fundos do bar, gritando e fazendo algazarra, parecia  haver uma briga, ninguém no balcão e ninguém no bar, todos haviam saído, Bruno atravessa o bar com  rapidez sobrenatural e chega a porta.

***

      Marcos não achou que seria tão fácil; ser desafiado por aquele garoto, pelo menino Merichelle, era mais do que ele podia pretender. Para os mortais, que pudessem se importar com o garoto, Marcos era invisível e para os vampiros, marcos faria um favor. Acabaria de vez com a ladainha de Bruno Merichelle, o novato que queria transformar o neto em vampiro, só por que não conseguia se livrar de seu lado humano.
      O menino estava se recompondo, Marcos achou que tinha exagerado na dose, o ponta pé que dera no menino o jogara porta afora, ele tinha que controlar sua força para não dar bandeira aos poucos espectadores da noite. Um soco bem dado,  Marcos fingiu sentir dor, mas logo em seguida, bateu de volta, jogando o menino de encontro a algumas latas de lixo. Que menino valente, Marcos estava gostando da reação dele, não se deixava humilhar, se levantou e veio de encontro a Marcos, que apenas desviou, dois ganchos de direita e um gancho na boca do estômago, que faria Marcos perder a respiração e até desmaiar se fosse mortal. Fingiu tontear, mas golpeou o menino com uma pisada no joelho e um soco de cima para baixo que fez o menino se ajoelhar e se preparou para o grande final, segurou a cabeça do menino e preparou para uma joelhada...

***

      O impacto foi tão forte que Marcos levou algum tempo para perceber o que estava acontecendo.
      -Seu verme, sanguessuga, não vai fazer com Pablo, o que fez com o pai dele. Há anos venho tentando localizar você e agora posso destruí-lo, seu demônio das trevas! Diz Bruno Merichelle se postando entre Marcos e o menino.
      -Só fiz o que me mandaram fazer, sou pau mandado assim como você. Responde Marcos se recompondo do empurrão.
      -Então, não tenho escolha vou matar, ou morrer de vez, a eternidade é um peso que não posso carregar sozinho.
      O menino assustado, vendo o homem que se interpôs ao combate, não acredita em seu olhos, ele via seu avô, igualzinho a imagem que se lembrava, a imagem no porta retrato, ao lado de seu pai.
      Um chute, uma defesa de perna, um soco, uma defesa e um soco, direto no queixo, Bruno agradecia os anos de briga de rua e pugilismo na adolescência, por mais que Marcos fosse mais forte, ele era mais esperto, Marcos sobrepujava os pobres meninos mortais, mas não era páreo para um de sua espécie, era uma marionete, tão nova quanto Bruno.
      Agarrando marcos pela gola do sobretudo, Bruno Merichelle arrasta seu oponente para a frente do bar e o joga na limusine parada em frente ao bar.

Continua...

Próximo episódio dia 25/03/2011
Escrito por: Bruno dos Santos
Um dos escritores do livro Rito de Sangue.

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